12.10.03
Gosto dos que n�o sabem viver,
dos que se esquecem de comer a sopa
((Allez-vous bient�t manger votre soupe,
s... b... de marchand de nuages?�)
e embarcam na primeira nuvem
para um reino sem pressa e sem dever.
Gosto dos que sonham enquanto o leite sobe,
transborda e escorre, j� rio no ch�o,
e gosto de quem lhes segue o sonho
e lhes margina o rio com �rvores de papel.
Gosto de Of�lia ao sabor da corrente.
Contigo � que me entendo,
piquena que te matas por amor
a cada novo e infeliz amor
e um dia morres mesmo
em �grande parva, que ele h� tanto homem!�
(D� Veloso-o-Frecheiro um grande grito?..)
Gosto do Napole�o-dos-Manic�mios,
da Julieta-das-Trapeiras,
do Ten�rio-dos-Bairros
que passa fomeca mas n�o perde proa e parlapi�...
Passarinheiros, tamb�m gosto de voc�s!
Ser� isso viver, vender can�rios
que mais parecem sabonetes de lim�o,
vender fuliginosos passarocos implumes?
N�o � viver.
� arte, lazeira, briol, poesia pura!
N�o fa�o (quem � parvo?) a apologia do mendigo;
n�o me bandeio (que eu j� vi esse filme...)
com gera��es perdidas.
Mas senta aqui, mendigo:
vamos fazer um esparguete dos teus atacadores
e com�-lo como as pessoas educadas,
que n�o levantam o esparguete acima da cabe�a
nem o chupam como voc�, seu irrecuper�vel!
E tu, derradeira gera��o perdida,
confia-me os teus sonhos de pureza
e cai de borco, que eu chamo-te ao meio-dia...
Por que n�o p�em cifr�es em vez de cruzes
nos t�mulos desses rapazes desembarcados p'ra morrer?
Gosto deles assim, t�o sem futuro,
enquanto se anunciam boas perspectivas
para o franco frrrran�ais
e os politichiens si habiles, si rus�s,
evitam mesmo a tempo a cornada fatal!
Les portugueux...
n�o pensam noutra coisa
sen�o no arame, nos carcanh�is, na estilha,
nos pintores, nas aflitas,
no toj�, na grana, no tempero,
nos marcolinos, nas fanfas, no bal�rdio e
... sont toujours gueux,
mas gosto deles s� porque n�o querem
apanhar as nozes...
Dize tu: - J� come�ou, por�m, a racionaliza��o do trabalho.
Direi eu: - Todavia o manguito ser� por muito tempo
o mais econ�mico dos gestos!
*
Saber viver � vender a alma ao diabo,
a um diabo humanal, sem qualquer transcend�ncia,
a um diabo que n�o espreita a alma, mas o furo,
a um satanazim que se d� por contente
de te levar a ti, de escarnecer de mim...
Alexandre O�Neill
Imagem : Clochard - Charles Blackman.
.
Sem comentários:
Enviar um comentário
‹
›
Página inicial
Ver a versão da Web
Sem comentários:
Enviar um comentário