6.5.05

Verde que te quero verde.
Verde vento. Verdes ramas.
O barco vai sobre o mar
e o cavalo na montanha.
Com a sombra pela cintura
ela sonha na varanda,
verde carne, tran�as verdes,
com olhos de fria prata.
Verde que te quero verde.
Por sob a lua gitana,
as coisas est�o mirando-a
e ela n�o pode mir�-las.

Verde que te quero verde.
Grandes estrelas de escarcha
nascem com o peixe de sombra
que rasga o caminho da alva.
A figueira raspa o vento
a lix�-lo com as ramas,
e o monte, gato selvagem,
eri�a as piteiras �speras.

Mas quem vir�? E por onde?...
Ela fica na varanda,
verde carne, tran�as verdes,
ela sonha na �gua amarga.
� Compadre, dou meu cavalo
em troca de sua casa,
o arreio por seu espelho,
a faca por sua manta.
Compadre, venho sangrando
desde as passagens de Cabra.
� Se pudesse, meu mocinho,
esse neg�cio eu fechava.
No entanto eu j� n�o sou eu,
nem a casa � minha casa.
� Compadre, quero morrer
com dec�ncia, em minha cama.
De ferro, se for poss�vel,
e com len��is de cambraia.
N�o v�s que enorme ferida
vai de meu peito � garganta?
� Trezentas rosas morenas
traz tua camisa branca.
Ressuma teu sangue e cheira
em redor de tua faixa.
No entanto eu j� n�o sou eu,
nem a casa � minha casa.
� Que eu possa subir ao menos
at� �s altas varandas.
Que eu possa subir! que o possa
at� �s verdes varandas.
As balaustradas da lua
por onde retumba a �gua.

J� sobem os dois compadres
at� �s altas varandas.
Deixando um rastro de sangue.
Deixando um rastro de l�grimas.
Tremiam pelos telhados
pequenos far�is de lata.
Mil pandeiros de cristal
feriam a madrugada.

Verde que te quero verde,
verde vento, verdes ramas.
Os dois compadres subiram.
O vasto vento deixava
na boca um gosto esquisito
de menta, fel e alfavaca.
� Que � dela, compadre, dize-me
que � de tua filha amarga?
� Quantas vezes te esperou!
Quantas vezes te esperara,
rosto fresco, negras tran�as,
aqui na verde varanda!

Sobre a face da cisterna
balan�ava-se a gitana.
Verde carne, tran�as verdes,
com olhos de fria prata.
Ponta gelada de lua
sustenta-a por cima da �gua.
A noite se fez t�o �ntima
como uma pequena pra�a.
L� fora, � porta, golpeando,
guardas-civis na cacha�a.
Verde que te quero verde.
Verde vento. Verdes ramas.
O barco vai sobre o mar.
E o cavalo na montanha.



















Garcia Lorca

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