8.6.17

    Não há tempo. Há o espaço. O sol e as nossas voltas.
    Os bocejos da lua, o clã dos astros.
    Os buracos negros.
    Ó mãe! Para onde foram os seres vi550vos de ainda
    Há pouco em todo o seu esplendor?
    Mortos como tu, a natureza recebe-os.
    A Terra, essa criança atroz, destrói os seus brinquedos
    Numa rotina mecânica.
    Quantas noites me faltam? Quantos beijos no escuro?
    Quanta luz me cabe ainda nas pupilas?
    Os anos não me matam, não me ferem os meses,
    As horas não me guilhotinam.
    As células vão ardendo nos seus mapas
    De nervos, o sangue demora sempre mais um pouco
    A chegar ao seu destino orgânico.
    Devagar, devagar, a cabeça amolece.
    Devagar no colo do sono.
    Ó mãe. Um ninho. Uma cama macia no teu ventre.
    Uma exposição de sinais. Uma geometria
    Que me liga ao saber acumulado.


Armando Silva Carvalho, in 'Sol a Sol' .

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