30.11.05

N�o sei quantas almas tenho.

Cada momento mudei.

Continuamente me estranho.

Nunca me vi nem acabei.

De tanto ser, s� tenho alma.

Quem tem alma n�o tem calma.

Quem v� � s� o que v�,

Quem sente n�o � quem �,



Atento ao que sou e vejo,

Torno-me eles e n�o eu.

Cada meu sonho ou desejo

� do que nasce e n�o meu.

Sou minha pr�pria paisagem;

Assisto � minha passagem,

Diverso, m�bil e s�,

N�o sei sentir-me onde estou.



Por isso, alheio, vou lendo

Como p�ginas, meu ser.

O que segue n�o prevendo,

O que passou a esquecer.

Noto � margem do que li

O que julguei que senti.

Releio e digo : "Fui eu ?"

Deus sabe, porque o escreveu.

Poesia de Fernando Pessoa, que se libertou do corpo h� setenta anos.
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