25.9.13
Imaginar a forma doutro ser
Na língua, proferir o seu desejo
O toque inteiro.
Não existir .
Se o digo acendo os filamentos
desta nocturna lâmpada.
A pedra toco do silêncio densa
Os veios de um sangue escuro.
Um muro vivo preso a mil raízes.
Mas não o vinho límpido de um corpo
A lucidez da terra
E se respiro a boca não atinge
a nudez una onde começo
Era com o sol
E era um corpo
Onde agora a mão se perde
E era o espaço
Onde não é
O que resta do corpo?
Uma matéria negra e fria?
Um hausto de desejo
retém ainda o calor de uma sílaba?
As palavras soçobram rente ao muro
A terra sopra outros vocábulos nus
Entre os ossos e as ervas,
uma outra mão ténue
refaz o rosto escuro
doutro poema .
António Ramos Rosa (1924-2013).
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