9.6.04

"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os bra�os, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(H�, nos olhos meus, ironias e cansa�os)
E cruzo os bra�os,
E nunca vou por ali...

A minha gl�ria � esta:
Criar desumanidade!
N�o acompanhar ningu�m.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre a minha m�e

N�o, n�o vou por a�! S� vou por onde
Me levam meus pr�prios passos...

Se ao que busco saber nenhum de v�s responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os p�s sangrentos,
A ir por a�...

Se vim ao mundo, foi
S� para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus pr�prios p�s na areia inexplorada!
O mais que fa�o n�o vale nada.


Como, pois sereis v�s
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obst�culos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos av�s,
E v�s amais o que � f�cil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes p�tria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e fil�sofos, e s�bios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e c�nticos nos l�bios...

Deus e o Diabo � que guiam, mais ningu�m.
Todos tiveram pai, todos tiveram m�e;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que h� entre Deus e o Diabo.

Ah, que ningu�m me d� piedosas inten��es!
Ningu�m me pe�a defini��es!
Ningu�m me diga: "vem por aqui"!
A minha vida � um vendaval que se soltou.
� uma onda que se alevantou.
� um �tomo a mais que se animou...
N�o sei por onde vou,
N�o sei para onde vou
- Sei que n�o vou por a�!











Jos� R�gio

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