3.9.04
Queixa das almas jovens censuradas
D�o-nos um l�rio e um canivete
e uma alma para ir � escola
mais um letreiro que promete
ra�zes, hastes e corola
D�o-nos um mapa imagin�rio
que tem a forma de uma cidade
mais um rel�gio e um calend�rio
onde n�o vem a nossa idade
D�o-nos a honra de manequim
para dar corda � nossa aus�ncia.
D�o-nos um pr�mio de ser assim
sem pecado e sem inoc�ncia
D�o-nos um barco e um chap�u
para tirarmos o retrato
D�o-nos bilhetes para o c�u
levado � cena num teatro
Penteiam-nos os cr�neos ermos
com as cabeleiras das av�s
para jamais nos parecermos
connosco quando estamos s�s
D�o-nos um bolo que � a hist�ria
da nossa historia sem enredo
e n�o nos soa na mem�ria
outra palavra que o medo
Temos fantasmas t�o educados
que adormecemos no seu ombro
somos vazios despovoados
de personagens de assombro
D�o-nos a capa do evangelho
e um pacote de tabaco
d�o-nos um pente e um espelho
pra pentearmos um macaco
D�o-nos um cravo preso � cabe�a
e uma cabe�a presa � cintura
para que o corpo n�o pare�a
a forma da alma que o procura
D�o-nos um esquife feito de ferro
com embutidos de diamante
para organizar j� o enterro
do nosso corpo mais adiante
D�o-nos um nome e um jornal
um avi�o e um violino
mas n�o nos d�o o animal
que espeta os cornos no destino
D�o-nos marujos de papel�o
com carimbo no passaporte
por isso a nossa dimens�o
n�o � a vida, nem � a morte
Desenho de Paula Rego
Poesia de Nat�lia Correia
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