17.7.06
A outra era noutra rua, noutra cidade, e eu era outro.
Perco-me subitamente da vis�o imediata,
Estou outra vez na outra cidade, na outra rua,
E a outra rapariga passa.
Que grande vantagem o recordar intransigentemente!
Agora tenho pena de nunca mais ter visto a outra rapariga,
E tenho pena de afinal nem sequer ter olhado para esta.
Que grande vantagem trazer a alma virada do avesso!
Ao menos escrevem-se versos.
Escrevem-se versos, passa-se por doido, e depois por g�nio, se calhar,
Se calhar, ou at� sem calhar,
Maravilha das celebridades!
Ia eu dizendo que ao menos escrevem-se versos...
Mas isto era a respeito de uma rapariga,
De uma rapariga loira,
Mas qual delas?
Havia uma que vi h� muito tempo numa outra cidade,
Numa outra esp�cie de rua;
E houve esta que vi h� muito tempo numa outra cidade
Numa outra esp�cie de rua;
Por que todas as recorda��es s�o a mesma recorda��o,
Tudo que foi � a mesma morte,
Ontem, hoje, quem sabe se at� amanh�?
Um transeunte olha para mim com uma estranheza ocasional.
Estaria eu a fazer versos em gestos e caretas?
Pode ser... A rapariga loira?
� a mesma afinal...
Tudo � o mesmo afinal ...
S� eu, de qualquer modo, n�o sou o mesmo, e isto � o mesmo tamb�m afinal.
Poema de �lvaro de Campos, sobre pintura de Patrick Maples.
.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Mensagem mais recente
Mensagem antiga
Página inicial
Ver a versão para telemóvel
Sem comentários:
Enviar um comentário